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4 passos para melhorar a comunicação com os seus filhos.

Atualizado: 19 de ago. de 2021



A Comunicação Consciente é uma ferramenta particularmente eficaz na resolução de conflitos entre pais e filhos.

O seu objetivo é aumentar a conexão de forma que todos compreendam e respeitem o que cada um sente e necessita, ficando mais disponíveis para contribuir para o bem-estar do outro.

Proponho que pare um pouco e relembre o último conflito com o seu filho. É provável que tenha utilizado frases como estas:


  • Deixas sempre a roupa toda espalhada pelo chão! És mesmo desarrumado!

  • Estás o dia todo agarrado ao telemóvel! Não te interessas por mais nada!

  • Estou farto de te pedir que faças menos barulho. Não vês que estou a trabalhar?!

  • Nunca cumpres o horário que combinamos! És sempre a mesma coisa!


O seu tom de voz alterou-se ou recorreu a este tipo de generalizações e rotulações? Sabia que constituem formas violentas de comunicar e diminuem a probabilidade de encontrar soluções válidas impedindo o fortalecimento da vossa relação?

Frases como estas falham o seu objetivo porque alteram os factos e privilegiam o julgamento ou classificação do comportamento dos nossos filhos.

Como é a sua reação quando lhe dirigem este tipo de afirmações? Provavelmente a mesma do seu filho: submissão ou revolta. De qualquer forma, ambas trazem consequências negativas tanto para o seu bem-estar como para o relacionamento com o outro.


Como é possível comunicar com o seu filho sem que as palavras vos afastem? Haverá alguma forma de se sentir ouvido e ao mesmo tempo disposto a escutar o que ele tem para lhe dizer? A boa notícia é que sim, é possível consegui-lo através da Comunicação Consciente.

Vejamos na prática como aplicar os seus quatro passos:


1. Observação

Limite-se aos factos, sem generalizações e sem julgamentos.

Exemplifiquemos o que poderia ter sido dito em cada um dos exemplos anteriores:


  • Vi que no teu quarto há roupa no chão…

  • Quando me despedi de ti, hoje de manhã, estavas a usar o telemóvel e agora ao chegar a casa vejo que também estás a usá-lo…

  • Esta semana chegaste duas vezes depois do horário que tínhamos combinado…

  • Estou em reunião no escritório ao lado do teu quarto e ouço-te a falar com os teus amigos…


Partir para a conversa com o seu filho com base em factos, permite avançar de uma forma mais tranquila, porque aquilo que está a ser observado não é contestado nem recebido como uma acusação / julgamento. É curioso como apenas uma palavra pode desequilibrar a conversa. Por exemplo na primeira frase, dizer “Vi que no teu quarto há roupa espalhada no chão…”, aumenta a probabilidade de o seu filho se fechar para o diálogo, entrando em modo de defesa: “Não está nada espalhada no chão!".

Este caminho raramente nos leva a bom porto, certo?


2. Emoções

Expressar o que sentimos aumenta a probabilidade de sermos compreendidos e de obtermos do outro maior disponibilidade para nos ajudar a encontrar soluções que vão ao encontro do que necessitamos.

Apesar disto, somos muito limitados no vocabulário de emoções. Experimente pensar em algumas. Quantas lhe ocorrem? Provavelmente surgiram na sua cabeça emoções como tristeza, irritação, frustração e pouco mais. Se quiser melhorar a forma como comunica, recomendo que espreite estas listas de emoções positivas e negativas.

Voltando aos exemplos que estamos a usar, poderíamos dizer qualquer coisa como:


  • Vi que no teu quarto há roupa no chão, sinto-me irritado…

  • Quando me despedi de ti, hoje de manhã, estavas a usar o telemóvel e agora ao chegar a casa vejo que também estás a usá-lo, fico preocupada…

  • Esta semana chegaste duas vezes depois do horário que tínhamos combinado, sinto-me frustrada…

  • Estou em reunião no escritório ao lado do teu quarto e ouço-te a falar com os teus amigos, sinto-me cansada…


É importante relembrar que não é o seu filho que o deixa irritado, preocupado, frustrado ou cansado. Essas emoções surgem porque há necessidades suas que não estão a ser atendidas e cabe-lhe a si procurar uma solução que possa ir ao encontro do que precisa. Comunicá-lo de forma clara, aumenta a probabilidade de o seu filho querer contribuir para o ajudar a conseguir.


3. Necessidades

O criador da Comunicação Consciente (ou Comunicação Não-Violenta), Marshall Rosenberg, dizia que, por serem humanas e universais, qualquer pessoa se identifica com as necessidades expressas pelo outro.

Tal como para as emoções, a nossa lista de vocabulário sobre necessidades é muito limitada. Espreite esta lista de necessidades.

Continuemos com os exemplos que temos vindo a utilizar:


  • Vi que no teu quarto há roupa no chão, sinto-me irritada porque para mim é muito importante que a nossa casa esteja em ordem…

  • Quando me despedi de ti, hoje de manhã, estavas a usar o telemóvel e agora ao chegar a casa vejo que também estás a usá-lo, fico preocupada porque a tua saúde é muito importante para mim…

  • Esta semana chegaste duas vezes depois do horário que tínhamos combinado, sinto-me frustrada porque o compromisso é importante para mim…

  • Estou em reunião no escritório ao lado do teu quarto e ouço-te a falar com os teus amigos, sinto-me cansada porque preciso de concentração…


Pode perguntar-se o que acontece se as vossas necessidades estiverem em conflito. Marshall Rosenberg dizia: “Não são as necessidades que estão em conflito, mas as estratégias que encontramos para ir ao encontro dessas necessidades”. As necessidades existem, são legítimas e não podem ser negociadas, mas as estratégias sim. Por isso é tão importante estar também disponível para ouvir e compreender as necessidades do seu filho. O desafio é encontrar a melhor forma de cuidar do que ambos precisam, genuinamente interessados em contribuir para o bem-estar um do outro.


4. Pedido

E por fim chegamos ao último passo, o pedido. Em comunicação consciente pedir não significa exigir. Um pedido prevê uma negociação de estratégia, já uma exigência tem subentendida uma punição se não for aceite.

Quando o seu filho lhe obedece, por medo de punição ou vergonha, o mais natural é acumular a raiva que sente, para ser libertada num outro momento das mais variadas formas.

Se ainda tem dúvidas relativamente a esta questão, pense um pouco: o que é realmente importante para si? Que o seu filho lhe obedeça a qualquer custo ou que compreenda a importância do respeito mútuo e da contribuição para o bem-estar de ambos?

Como fazê-lo então? Voltemos aos exemplos práticos:


  • Vi que no teu quarto há roupa no chão, sinto-me irritada porque para mim é muito importante que a nossa casa esteja em ordem. O que achas de teres no teu quarto um cesto para a roupa suja? Seria uma boa forma de evitar que a deixes no chão?

  • Quando me despedi de ti, hoje de manhã, estavas a usar o telemóvel e agora ao chegar a casa vejo que também estás a usá-lo, fico preocupada porque a tua saúde é muito importante para mim. Podemos falar um pouco para me contares o que pensas sobre isto?

  • Esta semana chegaste duas vezes depois do horário que tínhamos combinado, sinto-me frustrada porque o compromisso é importante para mim, o que precisas para conseguir cumpri-lo?


Se é a primeira vez que tem contacto com a Comunicação Consciente, talvez esteja a parecer-lhe estranha esta forma de comunicar. No início é realmente diferente e tal como uma língua nova requer aprendizagem e prática.

Por outro lado, habituados ao mundo do “certo” e do “errado”, da “recompensa” e da “punição”, este caminho alternativo pode fazê-lo questionar-se e colocar em causa aquilo em que acredita enquanto pai e educador.

É verdade que a Comunicação Consciente requer uma mudança de paradigma. Mas se a forma como comunicou até agora não funcionou, não será disto mesmo que precisa?






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