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Se acha que tem sempre razão, não leia este post.


Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.

Se alguém não concorda, levante a mão e levante também o resto do corpo porque o que vou dizer a partir daqui pressupõe esta verdade.


O primeiro passo para a resolução de conflitos, inclusivamente os internos, é assimilar que a mesma realidade pode ser vista de formas distintas.

Sabemos isto, certo? Então porque razão nos esquecemos diariamente?

A irritaçãozinha que nos provoca o colega de trabalho, a mágoa resultante daquele episódio com a nossa amiga, a tristeza quando nos lembramos da discussão com o marido, são exemplos de realidades suscetíveis de leituras diferentes pelos diferentes interlocutores.

Reparem que ainda não estou a pedir que se coloquem no lugar do outro. Peço apenas que se lembrem que a nossa realidade é um reflexo do que nós somos. E o que nós somos é toda a nossa bagagem, todo o nosso mundo, todas as nossas experiências. E apesar dessa diversidade e riqueza nos tornar únicos, pode atrapalhar em momentos de maior tensão, quando as conversas abordam temas delicados.

Uma das consequências desse olhar personalizado sobre as coisas e sobre as situações, é que tendemos a qualificar por vezes mais do que simplesmente observar.


Jiddu Krishnamurti (Filósofo indiano) disse que a forma mais elevada de inteligência humana é a capacidade de observar sem julgar e se quiser perceber porquê, realize este pequeno exercício: recorde um acontecimento recente que o aborreceu. Anote numa folha de papel, de forma resumida, o que se passou.

Por exemplo:

Quando lhe entreguei o relatório, não mostrou interesse nenhum e nem foi capaz de me agradecer pelo esforço que fiz para o acabar a horas. Limitou-se a dizer obrigado e a pedir para fechar a porta.


Acha que estou a fazer uma interpretação da realidade? Se outra pessoa tivesse assistido, poderia fazer outra descrição? É provável que sim.

Na Comunicação Consciente (ou Comunicação Não-Violenta), distinguimos os pensamentos das observações, como forma de contribuir para melhorar a comunicação com os outros, mas também connosco.

Permitir que os pensamentos surjam livremente faz parte do processo de uma boa higiene comunicacional 😊.

Há muita informação preciosa sobre as nossas necessidades não satisfeitas, num pensamento livre como o do exemplo anterior. No entanto, se queremos deixar de acumular emoções negativas e o que pretendemos é evoluir para zonas de maior bem-estar, com relações mais saudáveis com aqueles que nos rodeiam, precisamos aprender a limpar as lentes e OBSERVAR referindo apenas aquilo que uma câmara de filmar poderia captar.

O objetivo é harmonizar o espaço e partilhar a mesma realidade com o outro, permitindo-lhe baixar as defesas e abrindo lugar ao diálogo.

Por outro lado, quando iniciamos este processo dentro de nós, tendemos a ficar mais calmos e mais capazes de perceber o que sentimos e o que nos faz falta. Por vezes entendemos que não há um problema com o outro, mas sim uma necessidade nossa que precisa de atenção.


Vejamos como poderíamos aplicar a OBSERVAÇÃO (como usada em Comunicação Consciente) no exemplo dado:

Quando entreguei o relatório, agradeceu-me e pediu para que ao sair fechasse a porta.


Aquilo que verifico é que as minhas necessidades de reconhecimento e valorização (consultar lista de necessidades aqui), não foram satisfeitas no momento em que entreguei o relatório, o que me deixou dececionada e eventualmente insegura.

Posso aproveitar para tentar imaginar qual poderia ser a necessidade do outro naquele momento. Concentração? Eficácia?

Ou seja, o que aconteceu não significa necessariamente que o meu trabalho não é valorizado, mas posso concluir que estou a precisar de reconhecimento e valorização.

É nesta altura que mais uma vez a Comunicação Consciente vem lembrar-me que ao contrário do que nos é ensinado pela força do exemplo da nossa sociedade, somos os únicos responsáveis por aquilo que sentimos e por satisfazer as nossas necessidades.


No meu exemplo, se realmente considero importante, devo procurar conversar com o outro sobre o reconhecimento e valorização do meu trabalho.

No momento certo, depois de garantir que tem disponibilidade para conversar e disposta a comunicar de forma consciente, procurarei o meu bem-estar e provavelmente acabarei por ganhar também um relacionamento fortalecido.


Vamos lá aprimorar a nossa capacidade de observar sem julgar.

Vamos lá ser mais felizes!


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